Efeito Climático sobre os preços das Commodities e o uso de estratégias de hedge na gestão de riscos.

Damke News

Por Flavio Fazenaro Alumni Damke e José Paulo do Carmo

Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do IBGE publicado no dia 09, a safra de grãos, cereais e leguminosas deverá registrar 308,5 milhões de toneladas em 2024.

O que representa uma queda de 2,8% (aproximadamente 8,8 milhões de toneladas) em relação às projeções deste ano, 317 milhões de toneladas.  Os dados indicam que a produção do milho e da soja serão as mais afetadas:

Podemos relacionar esta queda nos níveis de produção aos fenômenos climáticos, conforme explicado por Carlos Alfredo Barradas, gerente do IBGE, em entrevista ao Globo Rural.

“A gente vinha do La Niña em 2022, caracterizado por seca no Sul e excesso de chuvas no Norte e nordeste. Agora, passamos para o El Niño, com chuvas no Sul e seca no norte e nordeste. Mas que também traz instabilidade no Centro-Oeste, que responde por mais da metade da produção do país”.

Barradas também mencionou os efeitos do atraso das chuvas:

“Em algumas áreas [no Centro-Oeste], a gente está ouvindo o pessoal comentando que está tendo que fazer replantio de novo da soja, porque não germinou direito”

Outro evento climático que traz preocupação para os produtores é a ocorrência de ondas de calor em boa parte do país, conforme observamos na imagem abaixo. Este cenário de temperaturas elevadas, em conjunto com o clima mais seco, afetam a produção e as margens para a próxima colheita.  Na medida que comprometem o potencial produtivo dos grãos.

A dinâmica da safra de soja já está sofrendo interferência destas altas temperaturas. Conforme dados da Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás), 45% da área do estado está semeada.  Para efeito de comparação, historicamente anos normais neste período este valor deveria estar acima de 60%.

Diante de previsões do MetSul que indicam 45 °C em algumas regiões brasileiras e com os resultados indicando que o outubro foi um dos meses mais quentes da série histórica. Os especialistas em mudanças climáticas estão sinalizando preocupações com estes fenômenos extremos.

Figura 1 – Anomalias de temperatura no Brasil no mês de outubro

 

Segundo a MetSul:

“[O que se vê no mapa] deveria preocupar todos os brasileiros. Não é normal que um mês registre temperatura tão acima da média numa área tão imensa do Brasil. Muito menos normal que o mês termine com temperaturas 2°C a 6°C acima da média em quase metade do país”.

“Temperaturas tão fora da curva histórica por longos períodos têm efeitos nocivos para a saúde humana, flora e fauna, e ainda para a economia, sobretudo a agricultura.”

Figura 2 – Temperatura média atinge recorde no Brasil pelo quarto mês seguido.

 

O mundo está ficando mais quente segundo pesquisa recente da elaborada pela Climate Central, segundo dados da publicação com um aquecimento médio em torno de 1,3º°C os últimos 12 meses foram os mais quentes já registrados.

O relatório também alerta sobre o El Nino

“O El Niño está começando a aumentar as temperaturas, mas com base em padrões históricos, a maior parte do efeito será sentida no próximo ano”.

Figura 3 – A curva cinza representa a tendência de aquecimento a longo prazo.

 

Segundo Índice de Mudanças Climáticas que mensura a influência humana no aquecimento global, estamos no nível 3 ou superior.  Indicação de que alterações causadas pela humanidade tornam as temperaturas elevadas pelo menos três vezes mais prováveis.

Efeito Climático sobre os preços das Commodities e impacto nas empresas que dependem de soja e milho como matéria-prima.

Os efeitos do clima para produção agrícola determinam de fato a oferta das commodities, em especial, soja e milho nas regiões produtoras e acabam por influenciar a formação de preço nas principais bolsas como B3, CBOT e NYBOT.

As possíveis perdas por falta de umidade no solo, chuva, atraso no plantio empurrando boa parte da área planta para fora da janela ideal, conforme zoneamento definido pelo Ministério da Agricultura através do ZARC, serão traduzidos em fatores de risco de oferta e consequentemente aumento dos preços futuros das commodities.

Variações nos prêmios futuro base porto e nos preços futuros de CBOT para soja e B3 para milho já sinalizam possíveis riscos de impacto no custo da aquisição dessas commodities para os agentes compradores, como demonstrado nos gráficos abaixo.

Considerando a variação de preços acima como base o vencimento para março/2024, o impacto em apenas 14 dias de mercado é respectivamente, R$7,43/saca para soja (+ 5,1% de impacto no custo) e R$3,58 para o milho (+5,3% de impacto no custo). Para evidenciar a grandeza de apenas 14 dias de oscilação de preço, considere uma empresa média que consome 100.000 sacas/mês de milho, com essa diferença de preço seria um impacto negativo no caixa da companhia de R$ 358 mil.

Diante do cenário de incertezas sobre o clima, há uma tendência de o produtor reduzir a comercialização de contratos físicos, por incerteza quanto à produção e também por especulação, fatores que levam ao aumento dos preços e fortalecimento do basis a ser negociado regionalmente.

Para esses casos, a adoção de derivativos para gestão de riscos financeiros, tais como a compra de call (opção de compra), compra de NDF ou futuros de milho para os compradores de grãos, podem ser estratégias para garantir o resultado e a saúde financeira das empresas.

Fundamentos climáticos são sempre muito especulativos, trazem grande volatilidade aos preços e muitas vezes colocam em dúvida qual decisão tomar. O comparativo dos preços com base no percentil histórico atrelado ao orçamento, também pode auxiliar na tomada de decisão do avanço das compras e fixações de preço via hedge ou compra no mercado físico.

Para os preços do milho, por exemplo, considerando um período de nov/20 a nov/23, os valores futuros para março indicam um percentil 37-38% (conforme tabela abaixo). Considerando o histórico dos últimos 3 anos, ainda seriam factíveis de compra, uma vez que os fundamentos até então indicam alta nos preços para o vencimento de março/23.

A decisão do uso de derivativos dependerá da política de hedge e de cobertura de compras da empresa, seguindo os regimentos internos que visam mitigar riscos de preço, caixa e resultado.

Lembre-se que a boa gestão financeira do negócio passa por não especular, dar previsibilidade ao negócio e garantir as margens, aliado à inteligência de mercado, estratégia de compras e utilização das ferramentas financeiras e contábeis corretas.

Para saber mais, fale com a Damke Consultoria e Treinamento!

Bibliografia

Primeiro prognóstico prevê redução de 2,8% na safra de 2024 frente a 2023

Clima instável é principal razão para previsão de safra menor em 2024, diz gerente do IBGE

– O mapa do clima no Brasil que espanta os cientistas no mundo

– El Niño bagunça o clima mundial e afeta a produção de alimentos

– Por que nova onda de calor no Brasil preocupa especialistas: ‘Não é normal’

– Zoneamento Agrícola de Risco Climático — Ministério da Agricultura e Pecuária

– Milho – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA-Esalq/USP

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