A Política Tarifária de Trump e Seus Efeitos no Câmbio
Neste segundo governo de Trump, os Estados Unidos adotaram uma postura protecionista em relação ao comércio internacional, impondo tarifas sobre produtos chineses e de outros países considerados estratégicos para a economia norte-americana. O objetivo era proteger a indústria nacional e estimular o crescimento interno, reduzindo a dependência de produtos importados. No entanto, essa estratégia provocou retaliações por parte dos países afetados e gerou turbulências no mercado global.
O dólar, como moeda de referência internacional, foi impactado diretamente por essas políticas. O aumento das tarifas reduziu a competitividade de exportações norte-americanas, deve gerar inflação com o aumento dos preços dos importados, o que incentivou a desvalorização do dólar em relação a outras moedas. Há um consenso entre os economistas de que poderá ocorrer uma recessão nos Estados Unidos, e por consequência, no mundo.
ara economias emergentes como o Brasil, essencialmente voltadas para a exportação, uma recessão norte americana nos causaria muitos estragos. Com risco e volatilidade elevados, o preço do dólar subiu. Mas após se constatar que o Brasil não é visto pelos EUA como um risco, colocando nosso país no menor patamar de tarifação (10%, menos para aço e alumínio), estamos vendo o dólar cair para valores abaixo de R$ 5,70.
Essa volatilidade cambial tem afetado setores estratégicos, como o agronegócio brasileiro, que além de suas cotações em dólar, depende de insumos importados nessa moeda. Como resultado, o custo de produção e os preços agrícola foram pressionados, refletindo diretamente no preço dos alimentos que consumimos em nosso dia a dia, de forma generalizada.
A Influência da Taxa de Câmbio na Inflação dos Alimentos
A inflação dos alimentos no Brasil está fortemente ligada às oscilações cambiais. Quando o real se desvaloriza frente ao dólar, os insumos agrícolas importados ficam mais caros, afetando toda a cadeia produtiva. Fertilizantes, defensivos agrícolas e maquinário representam uma parte substancial dos custos de produção no setor agropecuário, e qualquer aumento na taxa de câmbio faz com que esse custo aumente, porque o agricultor necessita de mais reais para pagar essa conta. No momento de vender, acontece a mesma coisa, pois se há um aumento em dólar no preço das commodities, pode ser mais interessante para o produtor exportar. E o preço em Reais, no mercado interno, também sobe.
Gabriel Galípolo destacou recentemente que essa relação entre câmbio e inflação alimentar. Em sua fala à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado – CAE, ele apresentou um estudo mostrando que, em ocorrendo em um trimestre uma depreciação cambial de 10% (p.e., um dólar saindo de R$ 5,70 para R$ 6,27), teríamos um aumento no preço dos alimentos em domicílio de 1,4%.
“As commodities são diretamente impactadas pelos preços internacionais, e os custos estão atrelados ao câmbio. A dinâmica resultante das incertezas na política tarifária dos Estados Unidos tem sido determinante para a precificação dos ativos”, disse Galípolo.
Além da alta de preços dos produtos importados, como um dos maiores exportadores de produtos agropecuários do mundo, o câmbio também influencia o mercado interno. Com o real desvalorizado, os produtos brasileiros tornam-se mais competitivos no exterior, incentivando exportações e reduzindo a oferta no mercado doméstico. Esse desequilíbrio tende a elevar os preços internamente, contribuindo para a inflação alimentar que percebemos de forma generalizada, e que se reflete em nossa inflação, que está acima da meta, e que segundo o Bacen, deverá continuar assim até pelo menos 2027.
Medidas para Mitigar os Impactos Cambiais na Inflação dos Alimentos
Diante desse cenário, algumas estratégias podem ser adotadas para reduzir a vulnerabilidade da inflação alimentar às variações do câmbio:
- Política cambial voltada para a estabilidade econômica – Medidas governamentais que busquem evitar oscilações bruscas no câmbio podem gerar mais previsibilidade para produtores e consumidores. Recentemente tivemos a cotação do dólar ultrapassando R$ 6,20 por problemas internos (déficit fiscal, orçamento 2025/2026, reeleição etc.). O Governo Federal deve emitir sinais mais claros de seus compromissos fiscais.
- Incentivos para a maximização da produção agropecuária – Financiamento de grandes safras, através de crédito barato e acessível, incluindo suas etapas (insumos, produção e custeio, beneficiamento, comercialização, silagem, exportação, etc) ajudam a garantir a produção de alimentos de custo menor para o Brasil e para o mundo.
- Diversificação e substituição de fornecedores de insumos agrícolas – Reduzir a dependência de importações concentradas em poucos países pode minimizar os impactos da valorização do dólar.
- Investimento em tecnologia agrícola – Incentivar o desenvolvimento de alternativas nacionais para fertilizantes e defensivos pode reduzir a dependência de produtos importados, assim como produzir nossos insumos. Temos uma das maiores minas de Potássio do mundo e importamos fertilizantes feitos à base desse elemento.
- Medidas Adicionais: Existem opções mais radicais, tais como o controle de exportações estratégicas para garantir que o abastecimento interno de alimentos não seja prejudicado por exportações excessivas em momentos de alta. Embora possam ajudar a conter a inflação, este tipo de ação tem muitos riscos envolvidos.
Essas medidas, combinadas a uma gestão econômica sólida, podem reduzir os impactos da volatilidade cambial sobre os preços dos alimentos e garantir maior previsibilidade de preços para a economia.
Conclusão
A política tarifária do governo Trump continuará exercendo efeitos duradouros sobre o câmbio global, impactando diretamente as economias do mundo e principalmente as emergentes, como a do Brasil. A volatilidade do real gerada por essa política aumentou os custos de produção agrícola e pressionou os preços dos alimentos, tornando a inflação alimentar um problema sensível para os formuladores de políticas públicas e nós consumidores.
A relação entre taxa de câmbio e inflação dos alimentos, como apontado por Gabriel Galípolo, evidencia a necessidade de estratégias econômicas para minimizar esses impactos. As nossas recomendações aqui apresentadas podem reduzir a vulnerabilidade do Brasil às oscilações das cotações internacionais, promovendo maior segurança alimentar e estabilidade econômica, para o enfrentamento deste período tão desafiador.