Nas últimas semanas, publicamos nossa primeira newsletter desta série, que visa tratar especificamente do mercado de energia elétrica no Brasil. Nosso objetivo é promover as boas práticas de gestão de riscos para proteção contra a volatilidade do preço da energia elétrica, e assim, criar caminhos para melhor geração de resultados nas empresas, através do uso de instrumentos financeiros.
Ao invés de iniciarmos abordando o que são os derivativos de energia elétrica, começamos com uma breve análise da flutuação dos preços de energia nos últimos 10 anos.
De uma forma simplificada, o PLD surge a partir do balanço entre a energia consumida e contratada versus a energia gerada naquele período. Isso implica dizer que o PLD valora a diferença entre os volumes de energia contratados e os efetivamente medidos nas transações do mercado spot, também chamado de Mercado de Curto Prazo (MCP). O PLD passou a ser horário desde 2021, e varia de acordo com cada região brasileira (submercado), sendo a Câmara de Energia Elétrica (CCEE) o órgão responsável por apurar e divulgar em D+1, os valores de PLD do dia anterior. Os valores piso e teto são aprovados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) anualmente.
Cientes de que a curva forward de preços e os valores de energia contratados no Mercado Livre têm o PLD como base, os dados a seguir mostram a variação do PLD mensal para o submercado de maior importância sistêmica (Sudeste – Centro Oeste) nos últimos 10 anos.
Na figura 1, podemos perceber que o mercado de energia brasileiro tem vivido seus anos otimistas em 2022 e 2023, com preços atipicamente próximos do piso durante todo o ano (volatilidade baixa). Contudo, se olharmos os anos anteriores, existe uma importante sazonalidade de alta e na baixa dos preços, muito associado ao regime de chuvas dos períodos seco e úmido no Brasil. Porém, não há como inferir padrões dentro dessas sazonalidades. Isto é, meses como fevereiro (historicamente meio do período úmido) e setembro (historicamente meio do período seco) podem apresentar valores extremamente distintos, com altíssima volatilidade. Os dados a seguir foram extraídos do gráfico acima.
Como mencionamos em nossa Newsletter anterior, a abertura do mercado de energia irá expor mais agentes ao risco de variação adversa de preço da energia, formado pelo PLD (Preço da Liquidação das Diferenças), além de aumentar o número de participantes do mercado livre de energia.
O que são os derivativos de energia elétrica?
Derivativos são contratos cujo valor depende, ou deriva, do valor de outro ativo. Eles são oferecidos sob a forma de um contrato entre duas partes, em que existe o compromisso ou direito de comprar, vender, ou trocar fluxos financeiros em uma data futura.
Os contratos derivativos são instrumentos que podem ser utilizados para proteção contra a oscilação de preços de um determinado ativo – essa utilização também é conhecida como hedge. Contudo, também podem ser usados quando se quer ter uma exposição a um determinado ativo com intenção de se obter ganhos com esse movimento. No caso do mercado de energia, os derivativos podem ser utilizados tanto para proteção quanto para exposição ao PLD.
As transações ocorrem no mercado de Balcão, também conhecido como OTC (Over the Counter), com a negociação direta entre as partes envolvidas. De forma bilateral, são discutidos e acordados parâmetros como preço (R$/MWh), quantidade (MWh) e vencimento (prazo da operação). O Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia Elétrica – BBCE, regulamentado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), proporciona a plataforma para a realização e registro dessas operações.
Os derivativos de energia podem ser transacionados por meio de diferentes tipos de contratos, tais como:
· NDF (Non Deliverable Forward): derivativo com liquidação financeira por diferença (ajuste), calculado com base na variação de preço da energia no período, sem entrega física. É uma alternativa aos Termos, que podem ser negociados com entrega física na BBCE; e
· Contratos de Swap e Opções: ainda em desenvolvimento no Brasil para o ativo-objeto preço futuro de energia elétrica.
A prática mais comum de negociar energia elétrica atualmente no Brasil envolve acordos de compra e venda bilaterais, associados à entrega física futura. No entanto, os derivativos são alternativas de negociação de preços futuros que vêm ganhando destaque. Por não envolverem a entrega física do produto, proporcionam maior flexibilidade, autonomia na gestão de riscos, liquidez e otimização de garantias. Isto ocorre devido ao alto índice de rotatividade no mercado que foi de 4,24 na última divulgação da CCEE.
Isto significa que 4,24 MW são transacionados a cada 1 MW consumido, indicando um movimento de mercado para especulação quanto aos preços futuros da energia elétrica. Esse modelo de contrato financeiro tem o potencial de provocar uma transformação significativa na maneira como a energia é comprada e vendida no setor elétrico, atraindo mais participantes e intensificando a competição, acrescido ainda da abertura do mercado que irá aumentar a quantidade de participantes. Desta forma, players que buscam proteção (hedge) de preço, podem utilizar os derivativos como instrumento, à semelhança do que já ocorre em derivativos de commodities, câmbio, juros, etc.
O uso de derivativos para hedge agrega valor às negociações do mundo físico, que continuarão a existir, proporcionando uma ampla gama de benefícios aos participantes. Estes terão à disposição ferramentas mais avançadas para a gestão de riscos financeiros, facilitando e garantindo maior segurança nas operações de compra e venda de energia elétrica.
É importante ressaltar que o mercado de energia elétrica com contratos de entrega física registrados na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) continuará existindo, não apenas para aqueles que têm demanda e oferta física de eletricidade, como consumidores e geradores. Mas também para as comercializadoras, que poderão continuar negociando contratos de energia elétrica com entrega física futura, proporcionando liquidez ao mercado.
Acreditamos que a abertura do ACL e o aumento do uso de derivativos estimula o desenvolvimento do setor e representa um dos passos mais significativos na evolução do mercado, sinalizando maturidade para o mercado livre e contribuindo de maneira significativa para sua modernização.
Na próxima newsletter, Samuel Dantas e Berenice Damke , da Damke Consultoria e Treinamento abordarão a diferença da negociação de energia em contratos físicos versus financeiro. Também trataremos de gestão e métricas de Risco em Energia. Continue conosco em 2024 e saiba mais!
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Bibliografia:
Histórico da Média Mensal Últimos 10 anos – (Submercado SE/CO)