Por Alex César, trader de commodities na Veloso Green Coffeee participante do grupo Alumni Damke
A gestão de risco é um aspecto crucial para os produtores que operam no mercado de commodities. Neste artigo, exploramos as práticas de hedge e o timing de fixação, destacando os desafios e as estratégias para mitigar os riscos associados às flutuações de preços. Analisando como a volatilidade do mercado pode impactar a liquidez, a honra contratual e as relações de longo prazo entre os participantes do mercado, além de discutir a importância de uma estrutura de hedge bem planejada e a solidez financeira para navegar em ambientes de alta volatilidade.
Gestão de Risco e Timing de Fixação
Produtores que fizeram hedge em momentos de preços menores ficam frustrados ao ver o mercado subir, no entanto, é preciso lembrar que hedge não se faz para “ganhar mais”. Mas para dar previsibilidade e proteger margens. Ainda assim, essa frustração pode levar a comportamentos de “washout” ou de quebra de contrato se a alta for muito expressiva.
A boa prática de gestão de risco sugere travar posições aos poucos, diversificando períodos de fixação, mesmo que isso signifique não capturar o topo de mercado. O “melhor” momento de fixar é sempre conhecido só retrospectivamente.
Risco de Entrega e Honra Contratual
Quando o preço spot ultrapassa muito o preço de contrato, aumenta a tentação de não entregar. Isso mina a confiança no mercado e encarece ainda mais as taxas e prêmios de risco para uma modalidade de negócio tão tradicional, porque as contrapartes precisam se proteger de potenciais inadimplências.
Essa dinâmica pode abalar relações tradicionais de confiança entre produtores, cooperativas e tradings, afetando o fluxo de comercialização a longo prazo.
Impacto na Liquidez e Chamadas de Margem
Com a volatilidade alta, as chamadas de margem aumentam. Quem opera na bolsa precisa desembolsar mais dinheiro para manter posições, pressionando o caixa e diminui a liquidez disponível para comprar o café físico.
Empresas com menor solidez financeira podem ter dificuldade em honrar chamadas de margem, gerando certo “estrangulamento” e potencialmente saindo do mercado ou reduzindo posições. Além disso, muitas vezes, mesmo possuindo a commodity física para lastrear o hedge, ocorre, em momentos de alta volatilidade, uma baixa liquidez e um descasamento de fluxo financeiro entre o vencimento das estruturas de derivativos e o recebimento pela venda da mercadoria no físico. Isso pode gerar um estresse financeiro significativo no caixa, exigindo maior capital de giro e aumentando os riscos operacionais.
Estrutura de Hedge e Participantes do Mercado
Quando a demanda de proteção (hedge) supera a disponibilidade de oferta física para uma safra, o preço futuro tende a subir rapidamente, agravando a volatilidade. Em teoria, o hedge serve justamente para proteger contra oscilações bruscas de preço, mas em momentos de estresse e escassez real ou potencial de oferta, o próprio processo de hedge pode inflar ainda mais as cotações no mercado futuro.
Para o produtor, preços elevados não necessariamente se traduzem em margens melhores se os custos de produção (e insumos) subirem proporcionalmente ou se faltarem recursos para investimento e financiamento devido ao encarecimento do crédito, e pior, pode até ter o café, mas sem comprador.
Em suma, essa espiral de alta nem sempre é totalmente benéfica para o produtor ou para o sistema na totalidade: ela pode criar distorções, insegurança contratual e pressão financeira sobre todos os elos da cadeia. Por outro lado, ressalta a importância de mecanismos de hedge bem estruturados, transparência na negociação e solidez financeira (tanto de quem produz quanto de quem faz a intermediação) para navegar em ambientes de forte volatilidade.
No final das contas trata-se de uma faca de dois gumes: preços recordes são tentadores, mas podem trazer consequências adversas para a liquidez, compromissos de entrega e relacionamento de longo prazo entre os participantes do mercado.
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