“Suzano perde R$ 9 bilhões com derivativos”. O que houve? Encontramos algumas respostas

Damke News

1. A empresa faz hedge das dívidas de longo prazo (acima de 18 meses) usando swaps, pois estas não tem “hedge natural” com as receitas de exportação. Na apresentação aos investidores, a cia diz que dolariza suas dívidas em reais. Mostra que 24% das dívidas são em reais, o que dá aprox. R$ 19 bi. Ela tem aprox. USD 3,6 bi de swaps cambiais que, por sua vez, estão com MtM (marcação a mercado, valor justo) negativo total de quase R$ 7 bi. E isto está impactando negativamente o resultado financeiro, além das despesas de variação cambial sobre as dívidas dolarizadas de R$ 13,2 bilhões, totalizando um “rombo” de R$ 21,5 bi no resultado financeiro, ainda não “coberto” por exportações, por ser de longo prazo (acima de 18 meses, com vencimentos maiores do que 2026). Ao adotar esta estratégia, a companhia está “pensando em dólares” e deixando exposto ao risco de variação cambial o seu resultado em reais – ao contrário do que faz a maior parte das empresas listadas na B3.

 

2. A Suzano faz hedge (proteção) usando NDF e Zero Cost Collar (ZCC), até 18 meses. Ambos implicam no pagamento ou recebimentos de ajustes e também MtM dependendo o movimento do câmbio. A diferença é que, no ZCC, a empresa trabalha com uma “banda”, um intervalo de duas taxas de câmbio, enquanto no NDF há uma única taxa de câmbio futura fixada.

Na análise de sensibilidade feita pela empresa (abaixo), são apresentados os strikes fixados no ZCC até 3T2021, em comparação com a taxa de NDF fixada para o 2º e 3º tri/20. Fica evidente que a companhia aceitou ficar vendida em níveis de câmbio abaixo do dólar futuro para obter o Collar com custo zero: 4,20 x 4,28 R$/USD no 2T20 e 4,10 x 4,26 R$/USD no 3T20. E esse é um problema da estratégia (instrumento de hedge escolhido), que envolve a compra e a venda de opções simultaneamente, na busca por dois strikes cuja soma dos prêmios seja zero.

Esta análise foi elaborada por Berenice Righi Damke, com base nas DFs e informações divulgadas pela Suzano Papel e Celulose (SUZB3), em 14 e 15/maio/2020, referentes ao 1T2020. Fonte: Release Suzano 1T2020, p. 19.

Neste momento, em que empresas exportadoras estão vendidas em NDF (para se proteger da baixa do R$/USD) e o câmbio subiu, muitas estão com MtM negativo ou pagando ajustes em derivativos. Mas isso não é perda pura e simples se for hedge, se estiver sendo compensado por aumento das receitas dolarizadas, quando contabilizadas em reais – o que ocorre com Suzano neste 1T2020. A questão é que, quanto mais baixo o nível de câmbio fixado no derivativo (4,20 e 4,10 R$/USD na Suzano, para 2º e 3º tri/20, respectivamente), mais ajuste ou MtM agora, estando vendida enquanto o câmbio beira 6 R$/USD.

Sobre o Zero Cost Collar: “A política de proteção cambial (hedge) da Companhia tem como objetivo minimizar a volatilidade da geração de caixa da Suzano e dar maior flexibilidade na gestão do fluxo de caixa. A política determina que o excedente de dólares de seu fluxo de caixa pode ser
parcialmente “hedgeado” (até 75% da exposição cambial dos próximos 18 meses) através de instrumentos plain vanilla como Zero Cost Collar (ZCC) e Non-Deliverable Forward (NDF). As operações de ZCC estabelecem limites inferiores e superiores da taxa de câmbio, com objetivo de
minimizar impactos negativos caso ocorra uma elevada apreciação do BRL.

Nesse caso, quando a taxa de câmbio ficar entre os limites estabelecidos, a Companhia não paga e nem recebe ajustes financeiros. Esta característica permite que se capture um maior benefício nas receitas de exportação em um eventual cenário de valorização do dólar, dentro do intervalo contratado. Portanto, para cenários extremos de valorização do Real a Companhia está protegida. Porém, ao mesmo tempo, essas operações limitam, temporária e parcialmente, potenciais ganhos em cenários extremos de desvalorização do Real.” Fonte: Release 1T2020, p. 15.

Graficamente, segue resultado em reais das estratégias usadas pela Suzano para hedge de receitas de exportação, no seu vencimento, variando de acordo com a taxa de câmbio R$/USD daquela data (vencimento da operação de derivativos). Neste exemplo, consideramos notional de USD 1 milhão.

Importante: isso só pode ser chamado de “perda” (ou “ganho”), se não for hedge e se não tiver alguma contrapartida no resultado operacional.
1. Venda de Zero Cost Collar: Suzano recebe ajuste se câmbio ficar abaixo de 3,87 e paga se ficar acima de 4,20 R$/USD, no 2T2020. Ou seja, o resultado financeiro negativo do 1º tri/20 pode persistir nos próximos trimestres se o câmbio seguir acima de R$ 4.

2. Venda de NDF R$/USD: Suzano recebe ajuste se o câmbio ficar abaixo de 4,28 e paga se ficar acima disso, no 2T2020. Ou seja, o resultado financeiro negativo do 1º tri/20 pode persistir e seu impacto no lucro em reais pode ser mitigado se a companhia tiver receitas de exportação
na contrapartida (gerando mais reais com a alta do câmbio R$/USD).

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